Entrevista com Larissa Becko: quadrinhos, fandom e consumidores

Entrevista com Larissa Becko sobre quadrinhos, fandom e consumidores da cultura

Esse é um projeto de entrevistas feitas com profissionais e pesquisadores de comunicação, consumo e dados. São sete perguntas para entender temas relevantes e atuais do mercado. 

Conheça a entrevistada

Doutora Larissa Becko é formada em Comunicação Social – Relações Públicas pela UFRGS, tem mestrado e doutorado pelo PPG de Ciências da Comunicação da Unisinos. Suas pesquisas estão todas voltadas para o consumo em cultura pop.

DICA: “Ainda não temos previsão de lançamento, mas acredito que teremos a segunda edição de Caçadora de Fãs em 2024, então indico o perfil @cacadoradefas para o pessoal acompanhar.”

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7 perguntas para Larissa Becko

 

1. Como surgiu o interesse por pesquisar quadrinhos? 

Esse interesse aconteceu quando eu estava na graduação, mais ou menos junto com o início do MCU.

2. Que tipo de dados você utiliza em suas pesquisas? E como os dados digitais podem se relacionar com isso?

Meus movimentos empíricos quase sempre envolvem consumidores.

Então recursos como questionários online ajudam bastante a mapear hábitos e perfis.

Mas também muitas das inferências surgem das observações em ambientes digitais, como plataformas de redes sociais.

3. Como é pesquisar quadrinhos (e consumidores)? Você utiliza o que você lê para desenvolver esse olhar?

Eu fiz somente a pesquisa para o trabalho de conclusão da graduação sobre quadrinhos propriamente dito. Minhas pesquisas posteriores foram voltadas para fãs e consumidores.

Para isso, é preciso estar em contato com eles e métodos com viés etnográfico podem ser bem importantes nesse processo, pois costumam ser abordagens mais abertas, sendo menos determinadas pelo pesquisador. É importante dar espaço para que os indivíduos mostrem aquilo que faz sentido para eles e não tentar apenas obter respostas a partir de perguntas previamente pensadas.

4. Como foi criar “Caçadora de fãs: uma aventura acadêmica“, com as ilustrações de Thiago Krening e roteiro de Fabio Mesmo? 

 Caçadora de fãs surgiu de uma reunião de grupo de pesquisa, na qual discutimos possibilidades de promover nossas pesquisas fora do ambiente acadêmico. Então, nada mais adequado do que uma história em quadrinhos para falar sobre uma pesquisa sobre fãs de super-heróis, certo?

Eu contei com dois grandes artistas da área, o Thiago e o Fabio, para me ajudarem a construir essa história com os elementos das histórias em quadrinhos. Por isso, temos fantasia, muitas referências da cultura pop e superpoderes, é claro.

5. Em entrevista com Eloy Vieira, comentamos sobre o fandom de novelas e ele citou sobre o fandom de super-heróis e suas ramificações. Pode comentar sobre o fandom dos quadrinhos? Pontos positivos e negativos, em sua opinião?

Os fãs de quadrinhos são uma comunidade relativamente grande e, por isso, bastante diversificada. Com o boom que os quadrinhos tiveram nos últimos anos, temos mais mulheres, gays, pessoas pretas nesse grupo, mas é importante ressaltar que eles sempre estiveram em contato com os quadrinhos. 

O que acontece é que a mudança na percepção geral dos quadrinhos como algo legal e descolado fomentou que mais pessoas sentissem vontade de se expressar como fãs e consumidores.

Então, de modo geral, o que fica evidente é que as pessoas que eram tidas como fãs num primeiro e mais distante momento (especialmente meninos brancos cis-gênero heterossexuais etc), muitas vezes, se sentem no direito de achar que essa é uma comunidade pertece a eles e somente a eles. Por isso, as disputas nesse universo têm ficado tão explícitas nos últimos anos. 

Com essa percepção sobre um público consumidor mais diverso, as próprias indústrias do entretenimento começaram a adequar e criar narrativas para abranger personagens e histórias que possam se conectar com esses outros públicos.

6. Pode comentar um pouco sobre imagem e a representação das mulheres nos quadrinhos?

Esse é um tema que possui diversos vieses, mas aqui eu quero explicitar dois pontos específicos.

O primeiro é em relação ao exercício de fã por parte de mulheres, que parecem ter que “provar” conhecimentos para validar seus gostos e afetos.

Ser fã não é (ou não deveria ser) sobre conhecimento mas sofre relações de afeto com determinado personagem ou história. E isso não é passível de ser mensurado.

E o segundo ponto é em relação à importância de representações femininas reais, por isso é essencial ter mulheres na produção – roteiristas, desenhistas, artefinalistas etc. Temos visto cada vez mais esse movimento e isso certamente tem sido sentido como algo positivo por quem consome.

7. No Instagram Caçadora de Fãs, você oferece algumas dicas sobre como usar gráficos em pesquisas. Pode comentar mais sobre isso?

Todo e qualquer recurso visual é importante para expressar de forma facilitada uma informação. Na minha opinião, não é sobre substituir informação, mas encontrar maneiras de exemplificar, de explicar, de reiterar a informação. 

Mas para conseguir fazer isso, é preciso sistematizar os dados, então você precisa saber organizá-los, enxergar padrões, encontrar formas de agrupar certos dados.

Então, a minha dica é: diante de qualquer conteúdo – seja um texto, uma apresentação, um post etc – tente organizar as informações e veja se há possibilidade e se faz sentido inserir um recurso de facilitação visual para quem vai consumir esse conteúdo.

Para continuar a conversa

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Profissional de Digital Business e Business Intelligence, com foco em Consumer Insights, Trends e Cultural Research. Pesquisa e trabalha criando estratégias baseadas em dados online e offline. Criadora do Dataísmo. Formada em Marketing e pós-graduanda em Digital Business na USP.

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