A prevenção de suicídio, o Facebook e a netnografia [ONG Save]

A prevenção de suicídio, o Facebook e a netnografia [ONG Save]

Artigo por Gio Sacche*

Pelo primeiro ano (2015), a campanha #SetembroAmarelo ganha força no Brasil. Seu objetivo é dar visibilidade e fomentar a prevenção de um problema de saúde pública: a morte prematura causada pelo suicídio. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada 40 segundos, uma pessoa tira a sua vida.

A Ju e eu achamos que seria atual lembrar esse importante trabalho de prevenção ao suicídio pois hoje é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio (World Suicide Prevention Day). No evento oficial da organização Internal Association of Suicide Prevention (IASP), especializada na luta, várias pessoas enviaram fotos de velas acesas em homenagem a pessoas que perderam ou para lembrar da discussão do assunto. As luzes são um símbolo de resistência e do que não pode se apagar: a vida. Ou, como diria a música do cantor Morrissey: “there is a light never goes out”.

Há dois anos, o Facebook anunciou que se uniu ao grupo americano Save para ampliar a ação que a rede que fazia desde 2011, a prevenção de suicídio de seus usuários. O objetivo do Save é… salvar.

E, aproveitando as informações disponíveis online, existe muito mais que pode ajudar as pessoas a não terem uma morte prematura!

A dor do suicídio é silenciosa, mas os números são gritantes

Segundo dados do grupo Save, o suicídio é a terceira maior causa de mortes entre jovens entre 15 e 24 anos. Anualmente, cerca de 780 mil suicídios são cometidos. E a taxa de suicídios cresceu 60% nos últimos 50 anos. De acordo com a Revista Mundo Estranho/Superintessante, até o fim de 2007, a média de suicídios ao redor do planeta chega à marca de uma morte a cada 30 segundos. E pior: estima-se que, para cada pessoa que comete suicídio, existem pelo menos outras 20 que tentaram, mas não conseguiram consumar o ato. Esses números levaram a Organização Mundial da Saúde a criar diversas ações, como a conscientização especial no dia 10 de setembro.

O importante trabalho da Save

O pilar da organização é lidar com sentimentos e alertas:

“Acreditamos que o suicídio é evitável e que a prevenção do suicídio funciona. A fim de cumprir a nossa missão e objetivos, nós usamos o modelo de saúde pública, juntamente com campanhas de mídia e educação para aumentar a consciência de suicídio. Nós usamos uma abordagem educativa para dissipar os mitos sobre o suicídio e permitir que os outros saibam sobre as realidades que o cercam. É o que o ex-Cirurgião Geral dos EUA Dr. David Satcher chama de “crise de saúde pública”.

 

Eles fornecem material especializado para espalhar informações e ajudar a desfazer o tabu do suicídio:

“Livros educativos para jovens e adultos estão disponíveis para os programas de prevenção da comunidade, escolas, profissionais de saúde, empresas e indivíduos envolvidos com a prevenção do suicídio. Essas ferramentas valiosas são uma excelente oportunidade para construir a conscientização da comunidade, bem como ajudar aqueles em necessidade”.

A parceria da Save com o Facebook e as suas implicações (em 2015)

A parceria com a rede social potencializa o trabalho de prevenção, pois o Facebook afirma que atualmente conta com 800 milhões de usuários ativos e mais de bilhão de perfis cadastrados. A rede social já trabalhava com a profilaxia de suicídio, mas baseando-se nas denúncias de amigos do potencial suicida.

Com a união com o grupo Save, o Facebook mapeia as informações de suicidas com o intuito de traçar comportamentos semelhantes. O uso dos dados irá identificar potenciais suicidas e planejar ações para a prevenção de novos casos de jovens que, por ventura, desejam abreviar as suas vidas.

O cruzamento de dados da netnografia do Facebook no mapeamento

Atualmente, sabemos que as principais causas estão sintomas ligados à depressão, bipolaridade, esquizofrenia, outras, além do vícios em drogas, em álcool e acontecimentos marcantes (com a perda de um ente querido). O estudo pode ser feito:

  • Levando-se em conta páginas que os usuários que cometeram suicídio curtiram;
  • Palavras ou termos mais utilizados, mensagens de familiares e amigos (que possam conter as motivações que o indivíduo teve).
  • Geolocalização: centros psiquiátricos, grupos de ajuda, sucessivos check-ins em casa (o que significa que a pessoa não costuma sair com frequência, acompanhados de comentários agregados nos check-ins, do tipo “não quero sair”, “não há vida lá fora”).
  • Acompanhamento do cotidiano da vítima.

Com o uso de algoritmos, o Facebook não precisa mais de denúncias de amigos e pessoas próximas quando uma pessoa demonstrar vontade de tirar a própria vida. A rede pode entrar em contato direto para poder prevenir o pior.

Para mim, é reconfortante saber que uma das redes mais populares tem interesse e usará as informações que os usuários confiam (no sentido de divulgar dados de seu cotidiano) para realizar um estudo tão importante.

Ao buscarmos os termos suicídio e Facebook, damo-nos conta de quantos casos são anunciados e descritos nas redes sociais e podem ser prevenidos com o diagnóstico precoce e tratamento correto. O que me deixa feliz é que para isso os pesquisadores utilizaram técnicas de netnografia para coleta desses dados e para a análise e que ela será em prol da vida humana.

* Gio Salles trabalha com números, mas é de humanas. Business Intelligence e Pesquisadora.

Profissional de Digital Business e Business Intelligence, com foco em Consumer Insights, Trends e Cultural Research. Pesquisa e trabalha criando estratégias baseadas em dados online e offline. Criadora do Dataísmo. Formada em Marketing e pós-graduanda em Digital Business na USP.

Share