Quarentena em Paz | Imagem: instagram @quarentenaempaz | https://www.instagram.com/p/CCcGDzOhq1a/

quepaz: entrevista com Karina Tagliari e Ana Aguinsky

O projeto quepaz (antes Quarentena em Paz), criado por Karina Tagliari e Ana Lucía Aguinsky, começou na busca do bem-estar na quarentena: mas vai além. Oferece dicas, informa sobre plataforma de terapia e um conteúdo que pode ser utilizado até em um momento pós-pandemia.

Aqui nessa entrevista, as duas contam sobre a quarentena, a fadiga, e em como aproveitar melhor as redes sociais em um período de excesso de informações.

  1. Recentemente, tem-se falado sobre a fadiga da quarentena (ou quarentine fadigue, de acordo com o The Lancet). Conseguem comentar um pouco sobre o que é e também como isso se aplica no contexto da pandemia brasileira?

O cansaço emocional do isolamento social é uma questão muito importante de ser debatida atualmente, pois muitas pessoas sofrem com essa questão. A “quarentine fadigue” é causada por muitos fatores: o próprio isolamento social de amigos e família (vivemos sem o social que fazia parte de nós anteriormente), intoxicação por informações diárias em canais televisivos e redes sociais, a invasão do trabalho e meios de comunicação dentro das casa, o uso excessivo de tela, o contato com emoções intensas pelas notícias e crises vivenciadas (crise econômica, política e de saúde), além do desconhecimento e falta de importância sobre saúde mental vivenciada anteriormente. A maioria das pessoas não tinham conhecimentos básicos sobre emoções e como lidar com elas, e no momento em que a pandemia começou, todos foram obrigados a entrar em contato com suas dificuldades, mas ninguém estava preparado. A busca por psicólogos não era nem de perto tão grande como está sendo agora, pois foi o momento em que as pessoas perceberam que não tinham ferramentas para enfrentar o que estavam vivendo.

2. Como surgiu a ideia do perfil/redes do quepaz?

Bem lá no início da quarentena (17 de março de 2020), as pessoas estavam começando a sofrer muito com a quantidade de informações e incertezas nunca vividas antes. Amigos e conhecidos nos mandavam mensagens e ligavam para nós dizendo estar sentido crises de pânico e ansiedade, além de muita angústia. Foi nesse momento que enxergamos que tínhamos ferramentas para ajudar as pessoas e logo começamos a discutir sobre o impacto da quarentena na saúde mental. Então decidimos criar um instagram para dar técnicas práticas e conteúdos da psicologia, contribuindo para a saúde mental das pessoas nesse momento. Inicialmente falávamos muito sobre ansiedade e crises, pois era um dos fatores mais aparente surgindo nas pessoas. Tivemos o objetivo e o propósito inicial de ajudar as pessoas a lidarem com o que estavam enfrentando e poderem cumprir a quarentena “em paz”, da forma mais leve possível. Atualmente, nos transformamos em um plataforma para que as pessoas possam buscar psicoterapia, e isso é só o começo de muita ajuda que pretendemos realizar.

3. Que dicas você dariam para usar as redes sociais (e também e-mails e demais ferramentas que envolvem contato) de forma mais leve nesse contexto de quarentena?

Acreditamos que hoje em dia o trabalho ultrapassou a sua barreira de limites. O expediente de trabalho invadiu as casas, sem dar limites de horários e lugares. As pessoas recebem mensagens às 23:30, 2h da manhã relacionadas ao trabalho e possuem a sensação de não terem saído dele, pois não há mais nenhum limite físico. Isso certamente está ajudando na exaustão mental, principalmente pelo fato de que a sua casa é o seu trabalho, ou seja, você não sai do seu trabalho. A nossa dica seria primeiro para limitar o seu local e horário de trabalho, sinta que você está entrando no trabalho e saia – a ideia é enganar o seu cérebro mesmo, até vestindo roupas de trabalho é uma ideia. Em relação as redes sociais, cuidado, limite o uso também, não se deixe levar por ela. Escolha horários para mexer no celular e responder as pessoas, o whatsapp é uma ferramenta de envio instantâneo de mensagem, não de resposta instantânea, você pode responder depois.

4. Qual o lado mais negativo da internet nesse contexto de pandemia, na opinião de vocês?

Certamente o lado mais negativo da internet é a tamanha infoxicação que ela pode causar (intoxicação por informação). Ela pode ser um ótimo veículo de informação se você souber filtrar, mas a maioria das pessoa não sabe filtrar o que lhe faz bem e acaba recebendo uma quantidade avassaladora de informações sobre tudo o que está acontecendo no mundo – crises políticas, econômicas, de saúde… Isso certamente é muito para uma pessoa digerir, é muita informação para lidar. Isso é outro fator que contribui para a exaustão mental de hoje em dia. 

5. Também existe um lado positivo de utilizar as redes sociais? 

Sim, existe e o quarentena em paz tenta fazer parte dele! Se você filtrar quem você segue e o que você lê, as redes sociais podem ser benéficas. Seguir páginas que te trazem bem-estar e te causa um impacto positivo é o ideal. Assim, quando se abrir o instagram, a sua ansiedade e angústia não vai aumentar.

6. Muitas pessoas ficam entre a ansiedade de ficar nas redes e outras, falam sobre se alienar e ficar completamente fora delas. Vocês podem comentar um pouco sobre esses dois polos?

O ideal é um meio termo, você não precisa se alienar. Você deve sim saber o que está acontecendo no mundo. Essa informação é importante, mas você não pode resumir seu dia nisso. Saber se desligar depois de ler uma notícia e lidar com as suas emoções é a melhor forma de manter a quarentena e de viver a situação que estamos vivendo. Ambos polos não são benéficos para a saúde mental, por isso, procurem o meio termo.

7. E o projeto @quepaz.cc, que está tão presente nas redes sociais, também o seu momento de ficar fora das redes sociais?

Assim como todos, enfrentamos essa questão das redes sociais também. Criamos sim momentos para nós ficarmos off-line, isso é uma questão de saúde e temos consciência disso. Mas mesmo assim, com o isolamento social, acabamos ficando muito em cima de tela por questão do estágio, da faculdade, da plataforma quarentena em paz, da pesquisa, do TCC, entre outros momentos. Por isso, desenvolvemos momentos de rotinas matinais e noturnas livre de telas para que a gente tenha um alívio durante o dia. 

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