Gravadoras no TikTok: tempos de virais, de Halsey a Adele

Cantora Halsey grava vídeo contando que sua gravadora pediu virais no Tik Tok para liberar nova música. Segundo ela, haveria pressão de fazer músicas “Tik Tok Friendly” (amigáveis no Tik Tok) para garantir gravação e divulgação. Imagem: reprodução/Tik Tok.

Gravadoras no TikTok: as produtorias estariam pedindo vídeos virais para lançar músicas de artistas, especialmente nessa rede social.

Nessa semana, a cantora Halsey contou que a sua gravadora, Capitol Records, impediria que ela lançasse uma música inédita caso não obtivesse sucesso “viral no Tik Tok” . Ela logo recorreu aos seus perfis para pedir engajamento e aumentar os seus números:

Cantora Halsey grava vídeo contando que sua gravadora pediu virais no Tik Tok para liberar nova música. Segundo ela, haveria pressão de fazer músicas “Tik Tok Friendly” (amigáveis no Tik Tok) para garantir gravação e divulgação. Imagem: reprodução/Tik Tok.

“Basicamente, eu tenho uma música que amo e que quero lançar o mais rápido que puder, mas a minha gravadora não deixa. Estou nessa indústria há oito anos e vendi mais de 165 milhões de discos e minha gravadora está dizendo que não posso lançar a menos que eles possam fingir um momento viral no TikTok”. “Tudo é marketing e eles estão fazendo isso com basicamente todos os artistas hoje em dia. Eu só quero lançar música, cara. E eu mereço tbh (to be honest = para ser honesta). Estou cansada”. 

FKA Twigs foi uma das cantoras que afirmou ter o mesmo tipo de pedido. “É verdade que todas as gravadoras pedem TikToks e eu fui repreendida hoje por não me esforçar o suficiente”. 

“É verdade que todas as gravadoras pedem por Tik Toks e me falaram hoje que eu não tenho dedicado esforço suficiente”. FKA Twigs grava vídeo contando da pressão que ela sofreria pelo mercado fonográfico para gravar vídeose viralizar para divulgar o seu trabalho. Imagem: reprodução/Tik Tok.

Charli XCX também apontou que as sua gravadora está pedindo virais na internet. 

“Quando a gravadora me pede para fazer um Tik Tok pela oitava vez na semana”. Charli XCX grava vídeo falando como se sente com os pedidos para gravar vídeos divulgando o seu trabalho. Imagem: reprodução/Tik Tok.

Ed Sheeran fez um Tik Tok sobre a questão:

“Quando você supostamente deveria estar fazendo vídeos promocionais da sua música, mas gostaria mesmo de um salgadinho. E você decide que comer um snack pode ser uma divulgação do seu som pois todo mundo adora salgadinhos”. Imagem: reprodução/Tik Tok.

Resposta da gravadora à Halsey

No caso da Halsey, a gravadora se manifestou. “Nossa crença em Halsey como uma artista singular e importante é total e inabalável. Mal podemos esperar para que o mundo ouça sua nova e brilhante e música“, disseram os representantes da Capitol Records e Astralwerks.

Independente do que acontece, fica a questão: será que agora as músicas começam nas redes sociais, apenas em formatos de 30 segundos ou um pouco mais? Fato é que, antes, as músicas aconteciam no rádio e na TV, agora ganham as redes. 

Música viral: case para alguns, não todos

Se por um lado, o lançamento digital pode diminuir a escolha de artistas, utilizar vídeos curtos como forma de divulgação já aconteceu de forma positiva para alguns, como o grupo  Jovem Dionisio e o seu sucesso “Acorda Pedrinho” e tá o desafio de “Envolver”, da Anitta. É um contraponto para diversos artistas americanos, e algo que não funciona com todas as músicas e artistas. 

Contraponto: canções fora dos virais

Há quem discorde desse modo de operação que nasce e tem como bússola o sucesso no digital. A cantora Adele já se manifestou sobre como e para quem faz canções: “Se todo mundo está fazendo música para o TikTok, quem está fazendo a música para a minha geração? Quem está fazendo a música para os meus pares? Eu vou fazer esse trabalho com prazer”, contou em entrevista para a Apple Music.

Perdas e ganhos

Se, por um lado, as plataformas digitais proporcionam músicas novas e descobertas ao mundo todo, nem todas se adequam ao público tik toker. Assim como em qualquer rede, existe um público e um jeito de se consumir, e nem todo som se encaixa. Artistas alternativos, de gêneros indefinidos, ou fora do circuito de coreografias podem não entrar na onda por falta de afinidade. E, para eles existem outros espaços, como o nicho do bandcamp, vídeos longos no Youtube ou streaming de alta qualidade sonora no Tidal. 

A rede social é uma vitrine, mas consumir digitalmente uma canção nem sempre é relacionado a consumir um show ou comprar um álbum. Também não garante qualidade técnica musical, e muito menos originalidade. Se é o viral que se torna orientação para definir o que obterá investimento financeiro, vale pensar se as escolhas baseadas em métricas digitais correspondem à verdadeira geração de valor musical. A questão que fica, além do cuidado técnico, é que nem sempre virais garantem resultados para as gravadoras fora da rede. Resta saber como esse cenário evolui e as escolhas de cada artista. Para o pop, a bússola digital aparece cada vez mais presente. 

Profissional de Digital Business e Business Intelligence, com foco em Consumer Insights, Trends e Cultural Research. Pesquisa e trabalha criando estratégias baseadas em dados online e offline. Criadora do Dataísmo. Formada em Marketing e pós-graduanda em Digital Business na USP.

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